Sombrio sono.

Eu estava no fim da minha adolescência mas não tenho certeza em qual ano isso me ocorreu, tenho 21 anos agora.

 Era uma semana comum, num domingo à noite eu voltava de um culto da minha igreja. O céu era de um azul Oxford, flertando com o lilás no horizonte. Inverno; não ventava e a rua estava silenciosa, também não havia nenhum carro passando nem pessoas por perto, como se eu andasse pelas ruas de uma cidade fantasma. Meu corpo estava estranhamente cansado e pesado para um dia tão pacato como aquele. Assim que chegava mais perto da minha casa, meu corpo ficava cada vez mais estranho. Acho que tive vertigem, a sensação era como se minha cabeça estivesse flutuando bem alto. Como de costume, quando chegava da igreja à noite, sempre assistia um filme ou ia ler um pouco antes de dormir mas meu cansaço era tão descomunal naquela noite que só tive forças para tomar banho e fechar a porta sanfonada do meu quarto. Senti que apagaria de sono só de encostar na cama; foi quase assim... eu normalmente não consigo dormir de barriga pra cima mas nesse dia foi dessa forma que o sono veio. Já tinha fechado meus olhos e prestes a dormir, quando de súbito, a porta se abriu com tanta força que fez um estrondo. Um ser parado na entrada do meu quarto me observava com o rosto e olhos ocultados pela densa escuridão que emanava de todo seu corpo sem forma, como um nevoeiro de breu. Ultrapassava o limite da porta de tão alto, aquilo estava em completo silêncio e apenas ficava ali sem sair do lugar. Tudo aconteceu em segundos... assim que percebi sua presença ali, meu corpo começou a levitar na horizontal, quando na verdade, eu estava mesmo era saindo do corpo. Mas no mesmo instante, senti uma mão gigante pressionar meu corpo para baixo de volta na cama, parecia que a gravidade e a pressão atmosférica estavam entrado em colapso. Assim que voltei de imediato, simplesmente dormi profundamente como um animal que leva um tiro de dardo tranquilizador. Quando acordei no dia seguinte, me lembrava nitidamente do que tinha acontecido, não era um sonho; acreditava ter sido um demônio que só queria me atormentar mas hoje entendo que naquele dia a morte estava atrás de mim e que aquela mão era como a vontade de Deus me dizendo que não era a minha hora de partir.